O primeiro ano de Toffoli como presidente do Supremo
Ministro se tornou um articulador entre Poderes. Pela frente, Corte enfrentará temas sensíveis, como execução provisória
Os planos do ministro Dias Toffoli para a presidência do Supremo Tribunal Federal eram, desde a posse, há um ano, ambiciosos. Atuar como moderador de conflitos em um país em efervescência e polaridade política acentuada, com crises diversas. Construir um pacto federativo e firmar uma aproximação entre os Três Poderes da República quando os pactos civilizatórios mínimos parecem ter perdido espaço, a política está desacreditada e os próprios eleitos querem se firmar como outsiders, optando por uma postura divisionista.
Por força das circunstâncias e também das próprias escolhas, as metas traçadas ainda estão distantes. Toffoli tem mais um ano pela frente para construir seu legado e os desafios não são menores que nos últimos 12 meses.
O ministro vai precisar lidar com temas espinhosos e conseguir manejá-los de forma perspicaz para assegurar a estabilidade e a segurança jurídica que ele tanto menciona.
De início, a expectativa era grande. Mesmo colegas de tribunal acreditavam que a Corte deveria estar a postos para frear eventuais radicalismos do Executivo ou do Congresso Nacional e defender a Constituição. Toffoli freou a censura nas universidades durante o segundo turno das eleições, em ação de relatoria da ministra Cármen Lúcia, votou as ações da criminalização da homofobia, ainda que elas tenham tomado tempo de plenário e atrasado a pauta prevista por ele. Ainda assim, o perfil que Toffoli entende ser de diálogo às vezes é lido como de proximidade inadequada.
Quando Toffoli tomou posse, no dia 14 de setembro do ano passado, Jair Bolsonaro era pré-candidato à Presidência da República com expectativa de vitória. Toffoli não tardou a dar a primeira sinalização ao favorito da corrida ao Palácio do Planalto: afirmou preferir chamar de movimento o golpe que derrubou João Goulart e implementou a ditadura civil-militar no país, em 1964.
E, com o mesmo objetivo de estabelecer uma ponte com os militares, classe que assumia novo protagonismo, convidou um general para compor sua equipe, algo inédito na história do STF. Fernando Azevedo e Silva, general da reserva do Exército, foi indicação do então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Fernando Azevedo tem vínculos estreitos com Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão e a cúpula do Exército. Tanto que se tornou ministro da Defesa, sendo substituído, no Supremo, por outro militar.
O contato com Azevedo se manteve. Ao menos cinco vezes ele esteve com o chefe da Defesa. Com Bolsonaro, Toffoli teve ao menos seis encontros. As conversas com os presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) foram mais de uma dezena. Ele foi ainda o primeiro presidente do STF a ir a uma formatura da Academia Militar das Agulhas Negras, a AMAN.
Por seus movimentos, Toffoli tornou-se interlocutor privilegiado na Praça dos Três Poderes, chegando a mediar o conflito no primeiro semestre entre o presidente da República e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Há quem avalie, contudo, que ele deixou de ser um conciliador e passou a atuar também como articulador.
O ministro Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência da República, chegou a elegê-lo, em entrevista à revista Crusoé, como “a pessoa com quem a gente tem uma excelente relação hoje, tanto em termos pessoais quanto em termos institucionais”. E acrescentou: “Tem auxiliado o governo em pautas importantes, naquilo que obviamente permite a autonomia de cada uma das instituições.”
Há um mês, no dia 13 de agosto, Toffoli se reuniu com senadores do PL, DEM e PSC, numa série de gentilezas feita por ele a parlamentares. Estes encontros se deram num momento de estremecimento das relações entre o Judiciário e o Legislativo. Isso porque alguns dos senadores de primeiro mandato, pautados pela renovação, insistem na chamada CPI da Lava Toga, para investigar tribunais superiores e pressionar ministros.
Uma das decisões que deu novo fôlego aos novatos do Congresso foi a que beneficiou o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), em julho. Toffoli suspendeu processos baseados no compartilhamento de informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com o Ministério Público sem autorização judicial.
O uso de dados de órgãos de controle, como o Coaf, a Receita Federal e o Banco Central em investigações criminais pelo país é mais um tema sensível que a corte vai ter de enfrentar.
O presidente do Supremo marcou para 21 de novembro a análise do recurso que decidirá se é constitucional o compartilhamento com o MP, para fins penais, dos dados bancários e fiscais de contribuintes obtidos pela Receita sem autorização judicial.
0 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.